“Grandes transtornos podem advir da falta de precaução e atenção às novas tecnologias”
Atenção às novas tecnologias (mantendo distância de grandes problemas)
No dia a dia das empresas de geração, de transmissão e de distribuição de energia elétrica são registradas ocorrências que geram pequenas descontinuidades de operação, por vezes controláveis e contornáveis. Mas, infelizmente, grandes transtornos podem advir da falta de precaução e atenção às novas tecnologias existentes no mercado mundial, que propiciam um maior nível de segurança às áreas de difícil acesso, tais como galerias de cabos e subestações, podendo provocar grandes e longos apagões, sem precedentes registrados.
Como um exemplo real de um acontecimento histórico dentro do segmento da energia elétrica, lembramos a ocorrência de um incêndio na linha de alta tensão de uma empresa distribuidora na argentina, que ocorreu às 4 (quatro) horas da manhã de 15/02/99. Resumindo-se os principais fatos desse apagão histórico, apresentamos o seguinte quadro:
Baseadas nos fatos ocorridos, tais como este na argentina, as grandes empresas de distribuição brasileiras começaram a implantar, no início deste século, vários sistemas de proteção passiva contra incêndio. Entre eles, passaram a adotar as vedações passivas na chegada das linhas de 138kV em suas principais subestações, com o objetivo de preservar a operação de um dos dois sistemas de alimentação, caso ocorresse um incêndio em uma linha. Além disso, protegeram os suportes dos cabos de transmissão e de controle e vedaram os acessos de passagem dos cabos pelas lajes, para a alimentação do interior subestação.
Em uma outra obra de grande porte, painéis divisórios entre dois (2) sistemas de 138 kV foram instalados num trecho de 1300 metros com o mesmo objetivo, ou seja, de se preservar um dos sistemas de transmissão, evitando-se a descontinuidade do fornecimento de energia, além das suas indesejáveis consequências.
No Brasil, inclusive através das normas da ABNT, já existem considerações de cunho técnico que devem ser adotadas em subestações. As normas que se relacionam a esta aplicação são a NBR 13231 – proteção contra incêndio em subestações elétricas de geração, transmissão e distribuição (29/07/2005) e a NBR 13859 – proteção contra incêndio em subestações elétricas de distribuição (01/05/1997).
Resumidamente, atendendo às normas citadas, os meios de proteção passiva contra incêndios podem ser listados conforme segue:
I. Casas de controle:
• Salas de baterias
• Salas, galerias, canaletas e túneis de cabos
• Escritórios, almoxarifados, oficinas e copas
1. Vedação das aberturas nas paredes/lajes limítrofes, por 2 horas (mínimo)
2. Barreiras contra alastramento por propagação, espaçadas em 5m (máximo) nos cabeamentos/bandejamentos
3. Canaletas internas: tampas e vedações com resistência ao fogo por 2 horas (mínimo)
4. Canaletas externas: idem ao item 2
II. Edificações de apoio operacional:
• Casas dos grupos geradores de emergência
• Casas de bombas
• Casas dos compensadores síncronos
• Oficinas eletromecânicas
• Almoxarifados
• Depósitos
1. Vedação das aberturas nas paredes/lajes limítrofes, por 2 horas (mínimo)
III. Equipamentos e instalações de pátio:
• Cubículos
• Transformadores e reatores de potência
1. Vedação das aberturas para passagens de cabos, por 2 horas (mínimo)
2. Canaletas externas: barreiras contra alastramento por propagação, espaçadas em 5m (máximo) nos cabeamentos
Nota geral: Edificações feitas com estrutura de aço deverão receber proteção contra fogo por um tempo mínimo de 2 horas para se obter a classificação de construção superior.
As indústrias brasileiras já estão instalando em suas subestações elétricas painéis vedados com massas intumescentes (que se expandem na presença de “calor”) para tamponamento das canaletas de alimentação dos cabos dos transformadores, além das vedações das passagens dos bandejamentos elétricos através das paredes, principalmente para atender às exigências da “factory mutual” (fm).
Como referência de ação centrada na preocupação com a garantia da continuidade operacional dos sistemas de geração de energia elétrica, citamos a utilização de produtos de base intumescente na hidrelétrica de itaipú (PR) e à base de lã cerâmica e intumescente nas usinas nucleares de angra I e II (RJ).
A grande maioria dos códigos de segurança dos corpos de bombeiros do brasil exige proteções especiais para as instalações elétricas. Destacamos a seguir dois artigos do coscip – código de segurança contra incêndio e pânico do cbmerj – corpo de bombeiros militar do estado do rio de janeiro, lançado em 1976:
“Art 208 – os dutos de ar condicionado e exaustão mecânica, passagens de tubulações hidráulicas, elétricas, de vapor, monta-carga e demais dutos congêneres serão objeto de proteção especial por meio de septos (“dampers” ou outro tipo adequado de proteção).”
“Art 231 – nas instalações elétricas, além do respeito às normas técnicas em vigor, poderão ser feitas exigências especiais que diminuam os riscos de incêndio.”
Nota: O artigo 231 confirma a grande frequência de incêndios causados por falhas nos sistemas termoelétricos identificada pelos corpos de bombeiros regionais, através de curto-circuitos e superaquecimentos, entre outras.
Na fase inicial de um incêndio, a fumaça tóxica e os vapores quentes se propagam em direção às regiões de menor pressão a uma velocidade de aproximadamente 15metros/minuto, podendo chegar à 90metros/minuto, com o seu desenvolvimento. Dessa forma, mais de trinta (30) pavimentos podem ser atingidos em um minuto. Um outro fato que se soma, é que as estatísticas da nfpa (“national fire protection association”) americana confirmam que aproximadamente 73% das mortes em um incêndio são por asfixia e intoxicação.
Assim sendo, conclui-se que a utilização das proteções passivas contra incêndio, permitindo a estanqueidade dos pavimentos, através da compartimentação vertical e da horizontal, é essencial para a separação de riscos distintos, podendo inclusive viabilizar uma redução nos prêmios de seguros, por dotar a construção de um maior nível de segurança contra incêndio.
Estima-se que na queima de um (1) kg de pvc (material empregado na isolação de cabos elétricos e em tubos hidráulicos) sejam produzidos dois litros de ácido clorídrico (hcl) vaporizado, com alta concentração, que somados à combustão de outros materiais gerados pelo incêndio podem causar os seguintes impactos:
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Danos químicos, como a corrosão em metais desprotegidos. Necessitando-se, após o sinistro, de uma descontaminação das áreas atingidas pela fumaça. Normalmente os contatos metálicos de equipamentos eletro-eletrônicos são danificados;
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Danos ambientais devido a toxicidade da fumaça;
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Dificuldade no combate pela brigada de incêndio e pelo corpo de bombeiros devido a concentração de fumaça, gerada principalmente em túneis de cabos e em áreas fechadas;
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Intoxicação e asfixia das pessoas em contato com as regiões incendiadas, além de queimaduras.
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Na queima de qualquer material de natureza orgânica, espera-se como resultado de uma combustão incompleta a presença do monóxido de carbono (co), que é combustível, tóxico e asfixiante, sendo considerado o principal vilão, o mais letal de todos os “cavaleiros do apocalipse” que chegam com o incêndio.
A proteção passiva contra incêndio complementa a ativa, não sendo menos importante ou substituída por essa última. A proteção passiva restringe a propagação do incêndio, permitindo um combate mais eficaz por parte dos sistemas ativos, os quais passam a atuar em um incêndio de menor proporção.
Devido à existência de inúmeras habitações ao redor dos perímetros das subestações em grandes centros urbanos, os ruídos com elevados níveis sonoros devem ser identificados e corrigidos, executando-se tratamentos acústicos que viabilizem a convivência pacífica entre as partes envolvidas (concessionária de força x vizinhança). Dessa forma, as paredes corta-fogo localizadas entre os transformadores e entre os reatores de potência que apresentem simultaneamente as características de resistência ao fogo por um mínimo de duas (2) horas e altos níveis de absorção sonora, além de serem de natureza pré-moldada e resistentes às intempéries, são o “top” da tecnologia de materiais de baixo peso, que passam a integrar as especificações das construções e das reformas das subestações de transmissão e de distribuição das empresas de energia elétrica, no mundo.
Os profissionais envolvidos com a segurança devem priorizar a preservação das vidas humanas e dos patrimônios, além de evitarem danos que possam abalar a continuidade operacional, as finanças e a imagem pública de suas empresas.
Com a adoção de novas tecnologias e a constante preocupação quanto à segurança dos sistemas de geração, de transmissão e de distribuição, é certo que os apagões continuarão a existir, mas somente na história (passado) das empresas de energia elétrica. “prevenir é agir já!”
Robson Santos Barradas: engenheiro de segurança do trabalho e mecânico, diretor técnico da RRJ Engenharia Ltda no Rio de Janeiro – RJ;Empresa especializada em proteções passivas contra incêndios e em tratamentos termo-acústicos, atuante em todo o Brasil. Membro daSociedade Brasileira de Engenharia de Segurança (SOBES), membro do Conselho Executivo do Centro Brasileiro de Estudo de Riscos eTecnologia de Incêndio (CBERTI) e membro da divisão técnica de engenharia de segurança (DSG) do clube de engenharia – RJ.
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